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Inteligência Emocional Corporativa ou Vulnerabilidade Real?

  • Foto do escritor: Fê Pier
    Fê Pier
  • 14 de jun. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de mar. de 2022

Durante a quarentena eu comecei, intencionei e também abandonei diversos cursos sobre os mais variados assuntos. Um dos primeiros que eu vi, disponibilizado gratuitamente com o intuito de “ajudar” as pessoas a passarem por esse momento desafiador, foi um curso de INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, de uma escola famosona aí.


Essa expressão bonita, "inteligência emocional", tá na moda, assim como algumas outras palavras, especialmente do universo dos mentores e coaches, tipo mindset. Elas foram importadas da galera good vibes espiritualizada diretamente pra dentro do sistema capitalista, e passaram, por uma “transformação pessoal”, digamos assim.


Quando pensamos SEM rótulos e preconceitos, a ideia de ser emocionalmente inteligente parece uma coisa bem interessante. Deixando de lado por um instante a consciência de que o conceito de inteligência é relativo, dá pra interpretar essa expressão como, em linhas gerais, saber lidar com as nossas emoções.


Parece ótimo, não é? Entender o que estamos sentindo, nos permitir vivenciar e sentir as emoções e, ao mesmo tempo, não se apegar a elas e deixa-las partirem depois de cumprido seu papel é justamente o que muitos os livros sobre budismo que eu li falam há milhares de anos.


O problema é que quando essa “inteligência emocional” foi absorvida pra dentro do sistema repressor e calorosamente abraçada pelo corporativismo e por essas escolas de “desenvolvimento pessoal”, os conceitos, ensinamentos e até as fontes foram suprimidas e distorcidas para servirem a quem tem o poder.


E aí aquela ideia de entender e acolher os sentimentos e emoções deu lugar à uma nova forma de “inteligência emocional” que significa controlar (ou seja, reprimir) o que sentimos. Para muitos desses professores de "inteligência emocional corporativa", o propósito é tornar-se menos suscetível e afetado pelas emoções.


Afinal, para a empresa e para o empresário não é interessante ter um monte de funcionários sentindo e se expressando de verdade no ambiente de trabalho. Não é lucrativo, sabe?


Demonstrar frustração, raiva, e descontentamento também não é produtivo, quer dizer, permitido. Por isso, pra eles, ter inteligência emocional é saber como, justamente, não demonstrar suas emoções.


O problema é que o gerenciamento das emoções NÃO FOI criado para que você manipule e controle os seus sentimentos e, quando estiver no trabalho, os reprima, para depois extravasar no grito do treinamento do coach. Isso não é equilíbrio.


Neste curso que eu comecei a fazer de “inteligência emocional” eles sequer se deram o trabalho de trazer as fontes de onde eles tiraram os conceitos de que nós podemos controlar nossas emoções através da respiração, de que a nossa mente não manda em nós - que por sinal vieram do yoga, dos ensinamentos orientais milenares trazidos pelos antigos mestres até a nossa civilização atual. Apenas jogaram lá, como se tivessem eles mesmos inventado ou percebido por conta própria. Uma grande festa de apropriação cultural patrocinada pelo "Mc Mindfulness" capitalista (essa expressão, inclusive, não é minha. Foi criada pelo autor e pesquisador Ronald Purser que tem um livro com o mesmo nome).


Várias coisas que eu aprendi em livros sobre espiritualidade, autoconhecimento, budismo e yoga, daqueles que ficam na temida sessão de “autoajuda” das livrarias, estavam lá sendo ensinadas para as pessoas, só que "fantasiadas" dessa inteligência emocional com um propósito completamente distorcido e diferente do qual foram originalmente propostas.


Isso, além de apropriação cultural, é manipulação e distorção de informação para usar pra benefício próprio. Não só é antiético, como totalmente reprovável moralmente.


Então, o que eu queria trazer é essa reflexão: a quem se presta a "inteligência emocional" da forma que você aprendeu? Quem vai ser o maior beneficiado se você aprender a controlar e gerenciar suas emoções e passar a reprimi-las de uma forma nova, com um propósito novo? Você acha que os empresários tem mesmo interesse em permitir que seus funcionários sintam e expressem suas emoções livremente?





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